II Espiritualidade das Fraternidades
6. Espiritualidade nazarena
A espiritualidade das Fraternidades Nazarenas, como a do Ir. Gabriel Taborin e a dos Irmãos da Sagrada Família, brota do mistério da salvação revelado por Deus em Nazaré.
Com os Irmãos, os membros das Fraternidades reconhecem na Sagrada Família de Nazaré a mais perfeita realização na terra da comunidade de amor que é a Santíssima Trindade.
Manifestam sua vontade de servir Deus e os homens vivendo o mistério de Cristo em sua vida de família com Maria e José.
Procuram amorosamente aprofundar sempre mais no mistério de salvação revelado em Nazaré. Sua espiritualidade terá sempre como ponto de referência, a vida de Jesus, Maria e José, como “família”. Aprendem a meditar e a viver o Evangelho à luz do mistério de Nazaré, onde Jesus começou a cumprir o que mais tarde haveria de pregar.
Em síntese, as Fraternidades propõem um caminho de fé que é percorrido não individualmente, mas sim com outros irmãos e irmãs, e este caminho tem: ·
Uns modelos de identificação: a Sagrada Família de Nazaré e o Irmão Gabriel Taborin ·
Um estilo de vida: inspirado no espírito de família ·
Um método de ação: orar, trabalhar e amar como na família de Jesus, Maria e José construindo com outros a paz ·
Um objetivo: responder ao chamado universal à santidade.
8. Perfil do leigo cristão conforme o Ir. Gabriel
A partir dos escritos do Ir. Gabriel e de sua experiência de vida, podemos traçar o perfil de um leigo cristão com as seguintes características:
· uma fé forte e sempre em crescimento;
· um grande sentido de participação na vida da paróquia e da Igreja,
· uma intensa vida de oração;
· uma vida cristã coerente em todas as suas dimensões,
· uma santidade de vida buscada na condição de vida de cada um;
· com uma espiritualidade que encontra seu modelo e apoio na humilde casa de Nazaré com Jesus, Maria e José;
· vivendo o “espírito de família”;
· e com a generosa disponibilidade para “toda classe de boas obras” cujo objetivo é a comunhão eclesial e a solidariedade humana.
Os membros da Associação tratam de integrar estas características próprias nas orientações que a Igreja dá a todos os fiéis leigos.
9. Na vida de cada dia
A espiritualidade nazarena anima e dá uma tonalidade particular à vida cristã dos membros das Fraternidades em todos os seus aspectos: eclesial, familiar, profissional, social e na missão partilhada.
Trata-se de uma espiritualidade da vida cotidiana, de uma espiritualidade doméstica, na qual, seguindo o exemplo da Sagrada Família de Nazaré, A santidade se realiza não mediante grandes obras ou grandes gestos, mas pela fidelidade nas responsabilidades diárias, assumindo-as com alegria e simplicidade de coração, servindo aos menores e nos detalhes que costumam passar despercebidos.
A profundidade e consistência de nossa espiritualidade joga-se nesta entrega que Deus pede, aqui e agora, dia após dia.
A) Em Nazaré se rezava
10. Vida de oração
A oração é essencial para a existência cristã e para a vitalidade da Associação.
Vale também para a Associação o que o Ir. Gabriel disse para o Instituto dos Irmãos: “A oração tem sido a pedra angular de nosso Instituto; ela será também uma das colunas mais sólidas para o sustentar”. (N.G. p. .XXVIII).
A oração leva à comunhão com Deus, intensifica os vínculos entre os membros da Associação e une todos os homens.
Os membros das Fraternidades amam e praticam especialmente a oração litúrgica.
Em seu amor à Eucaristia, “fonte e cume de toda vida cristã” (LG 11), os membros da Associação inspiram-se no Ir. Gabriel. Para ele a Eucaristia tem um lugar de primeira ordem na vida cristã e portanto foi motivo determinante de sua vida espiritual e da fundação do Instituto.
As Fraternidades estão atentas à vida de oração e por isso animam a seus membros para a oração pessoal e comunitária. Procuram oferecer uma formação bíblica que ajude a encontrar a Palavra viva que interpela, orienta e modela a existência do cristão.
11. Freqüentando Nazaré
O convite do Ir. Gabriel: “O coração do cristão … deveria estar com freqüência sob o humilde teto de Nazaré” (NG 607), é uma indicação fundamental.
O mistério de Nazaré ensina-nos algumas dimensões essenciais da vida cristã:
· A nova família de Jesus é mais ampla do que a natural, porque Ele próprio abre-a para todos os discípulos enquanto filhos do mesmo Pai.
· O Evangelho é vivido antes de ser proclamado.
· A fraternidade se constrói com a colaboração de todos numa atmosfera de simplicidade e de normalidade.
· Contemplando Nazaré, aprendemos também como colaborar na construção de uma Igreja mais simples e aberta e de uma sociedade mais humana, justa e fraterna.
Alguns meios concretos para entrar no mistério de Nazaré são:
· Viver intensamente os tempos litúrgicos de Advento e de Natal.
· A leitura meditada da Palavra de Deus tanto pessoalmente como na Fraternidade.
· A invocação freqüente de Jesus, Maria e José.
· A presença do quadro da Sagrada Família no local da reunião da Fraternidade e no lar de cada um dos membros.
B) Em Nazaré se trabalhava
12. Testemunhas e apóstolos
O Espírito Santo enriquece com seus dons sempre novos a Igreja, enviada por Cristo para ser testemunha do amor salvífico do Pai. As Fraternidades participam do dom suscitado na Igreja pelo Espírito Santo mediante o Ir. Gabriel e ajudam a cada um dos seus membros a assumir e viver, conforme este carisma e a índole secular própria dos leigos, sua missão de testemunha e evangelizador recebida no batismo e na confirmação.
Vivendo a missão participa-se ativamente na construção do Reino de Deus, cresce-se espiritualmente e aumenta a vitalidade da Associação.
Todos os membros das Fraternidades vivem sua vocação na própria condição de vida, mas procurando ser um reflexo luminoso e um testemunho do amor, da comunhão, da co-responsabilidade e do diálogo, que são as características peculiares da Sagrada Família de Nazaré e pontos fundamentais da espiritualidade taboriniana.
13. Na família
A família, igreja doméstica, mesmo em suas situações de dificuldade e fragilidade, é o primeiro campo de apostolado para cada membro das Fraternidades.
Os pais entregam-se à educação de seus filhos com o mesmo amor de Maria e José à de Jesus.
Os filhos aprendem a crescer, como Jesus, “em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52); ajudam a família a ser comunidade evangélica que se torna também evangelizadora pelo testemunho de sua caridade. Num mundo pluralista como o atual, se faz necessário, junto com o exemplo e a educação cristã, o respeito à liberdade e à alteridade dos filhos.
A oração na família ajuda a “criar família” e a viver plenamente o significado profundo do “Pai Nosso”.
Aqueles que não vivem inseridos num núcleo familiar, têm aberta a porta maior da família da Igreja, que se concretiza algumas vezes na paróquia. A Fraternidade Nazarena é também para seus membros “casa e família”.
14. No trabalho
O trabalho, em sua dimensão humana e cristã, é um caminho de santidade próprio dos leigos. É missão do leigo viver no mundo, trabalhar nele, santificá-lo e transformá-lo de acordo com o projeto de Deus.
A Sagrada Família é em Nazaré um modelo de laboriosidade. Os membros das Fraternidades encontram nela o Filho de Deus, que com Maria e José, “trabalhou com mãos de homem, pensou com inteligência de homem, amou com coração de homem” (GS 22).
Em Nazaré, mediante o trabalho, aprende-se a colaborar com Deus criador para dar ao mundo um rosto mais humano e fraterno, configurando-o aos valores do Evangelho.
Os membros das Fraternidades podem compartir de diversos modos as atividades da missão do Instituto.
15. Na Fraternidade
A Fraternidade na que cada qual está integrado é outro campo privilegiado para viver a missão.
Cada qual se interessa pela vida e o trabalho dos demais membros da Fraternidade.
Com respeito, delicadeza, amor, discrição e generosidade cultivam o intercâmbio de ajuda e apoio.
Mutuamente se procura tomar consciência da própria missão nas condições concretas da vida de cada qual.
O testemunho e a oração dos membros idosos e enfermos são tidos em grande consideração porque estão associados à fecundidade redentora da cruz de Cristo.
16. Na Igreja
Como o Ir. Gabriel, os membros das Fraternidades devem ser particularmente sensíveis às necessidades da Igreja local à que pertencem (paróquia, diocese, organismos eclesiais) e estão disponíveis para colaborarem na animação da liturgia, da catequese, e nos projetos solidários, etc.
É oportuno, contudo, cultivar sempre, assim como também fez o Ir. Gabriel, uma sensibilidade missionária, que pode ter várias manifestações concretas. Os membros das Fraternidades podem participar em determinadas ações de cunho missionário nas obras do Instituto.
17. Na sociedade
No ambiente social em que vivem os membros das Fraternidades tratam de ser testemunhas do Evangelho obrando com a lealdade, a solidariedade, o espírito de serviço e a força que dá a fé.
O carisma apostólico do Ir. Gabriel está aberto a “toda classe de obras boas” no âmbito social e eclesial. A fraternidade ajuda a discernir as opções concretas que podem ser realizadas de fato e acompanha o compromisso de seus membros desde a oração, o estímulo e a solicitude.
A formação dos jovens, a catequese, a liturgia são objeto de particular atenção e compromisso.
C) Em Nazaré se amava
18. Viver o “espírito de família”
Com os Irmãos da Sagrada Família, os membros das Fraternidades contribuem a realizar o Reino de Deus mediante o espírito próprio do Instituto que é o “espírito de família”.
Este espírito tem como ponto de referência os laços vitais que uniam os membros da Sagrada Família de Nazaré e cuja origem está na Trindade divina.
Da mesma forma que o Verbo Encarnado realizou a união familiar perfeita, assim a Palavra de Deus há de abrir os membros das Fraternidades à plenitude da paz mediante o amor, a oração e o trabalho para construir permanentemente sua Fraternidade.
O espírito de família a que somos chamados:
· É princípio de estabilidade e de unidade para as Fraternidades e para a Associação;
· anima as relações mútuas;
· leva a uma atenção especial para com os membros das Fraternidades que se encontram em dificuldade e a ajudá-los com discrição e delicadeza;
· cria uma constante confiança no diálogo;
· caracteriza o estilo de ação dos membros das Fraternidades e guia-os na missão;
· ajuda a reforçar os vínculos de solidariedade;
· é fonte de vida e de liberdade;
· convida à humildade e a uma simplicidade de vida e de meios.
Com palavras do Ir. Gabriel:
O espírito de corpo e de família contribui em grande maneira, prezados Irmãos,
para a prosperidade e a força de uma Congregação religiosa… Nasce da caridade e,
portanto, de Deus que é a própria caridade. Todos os membros que formam uma
Congregação na qual verdadeiramente exista este espírito, têm um só coração e uma só alma;
Amam-se e ajudam-se mutuamente, compartem as alegrias e as penas, os êxitos e os fracassos
de todos; as atenções recíprocas e uma entranhável fraternidade unifica os espíritos
e caracteres mais diversos; … e Deus reina sobre todos. Assim se encontram a paz,
a satisfação e todas as virtudes”. (Circular nº 21, do 02/07/1864).