A MISSÃO DO INSTITUTO
DOS IRMÃOS DA SAGRADA FAMÍLIA,
HOJE
ROMA 1999
- DESDE A CATEQUESE
1.1. EM PERSPECTIVA ECLESIAL E SEGUINDO AO IR. GABRIEL
1. Dizem as Constituições ao expor a missão do Instituto: “… Compartindo o carisma do Fundador, os Irmãos estão abertos às necessidades da Igreja local. Participam em sua pastoral principalmente por meio da educação cristã, a catequese e a liturgia”[1].
Numa eclesiologia de comunhão, tal como sublinha o Vaticano II, toda a comunidade cristã tem uma única missão. Cada carisma particular contribui para a edificação da única Igreja. Em alguns momentos, sem dúvida, podem-se produzir tensões entre a atenção à Igreja Local e a Igreja Universal, entre a pastoral de conjunto e o respeito à identidade própria dos diversos grupos. É preciso ter sempre em conta a recomendação paulina: “Há diversidade de ministérios, mas um só Senhor… E a cada um se lhe outorga a manifestação do Espírito para o bem comum… Os membros são muitos, mas um só é o corpo”[2].
2. Já o Ir. Gabriel viveu em sua própria carne esta mesma tensão. Sem dúvida, é preciso avançar juntos pelo caminho da unidade no necessário respeito e apoio aos diferentes carismas, especialmente quando estes têm sido reconhecidos pelo sucessor de Pedro, como ocorre com as congregações de “direito pontifício”[3]. A própria Igreja proclama que os carismas fundacionais de diversos institutos não podem ficar à margem quando os religiosos participam na tarefa catequética, mas que estes carismas das diversas comunidades religiosas “enriquecem a tarefa comum com acentos próprios, muitas vezes de grande profundidade religiosa, social e pedagógica. A história da catequese demonstra a vitalidade que estes carismas tem proporcionado à ação educativa da Igreja”[4].
3. A Igreja convoca expressamente com um convite particular aos consagrados para que participem na atividade catequética e deseja que “as comunidades religiosas dediquem o máximo de suas capacidades e de suas possibilidades à obra específica da catequese”[5].
A razão deste convite especial provém da condição específica da pessoa consagrada, que constitui um dom para toda a Igreja e cuja contribuição original não poderá ser substituída nem pelo sacerdote nem pelo leigo. “Esta contribuição original brota do testemunho público de sua consagração, que o converte em sinal vivente da realidade do Reino”[6].
4. Gabriel proclama jubiloso que os Irmãos e os catequistas ensinam em nome de Jesus Cristo, ao receber a missão de parte da autoridade eclesial[7]. Nosso venerável Fundador professa um grande apreço pela catequese. Escreve: “Não há atividade mais bela, mais honrosa e mais meritória que a de catequista, se se exerce com fé…”. Afirma que “para compreender toda a sua grandeza e importância” há que considerar o conteúdo a comunicar: o que cremos, o que celebramos, o que vivemos, o que esperamos. “Os Irmãos catequistas apreciarão mais sua função que qualquer dignidade humana e a considerarão como verdadeiramente apostólica”. Há uma razão fundamentalmente cristológica para isso: “Ensinam o mesmo que Jesus Cristo veio ensinar na Terra”[8].
5. Gabriel fala a partir de sua experiência. Aos 18 anos já é catequista em sua Paróquia natal de Belleydoux, logo depois o vemos exercendo o ministério em diversos lugares, geralmente simultaneamente com a de professor e de animador litúrgico. Cuidou de uma maneira especial da preparação dos adolescentes para a Primeira Comunhão. Também foi catequista itinerante. Recolhemos na Positio: “Exerceu com alegria a missão de catequista itinerante na região de Brénod…” Escreve Gabriel em sua autobiografia: “Dedicava-me a este exercício com alegria”[9].
Tal apreço tinha Gabriel por este serviço eclesial que solicitou e obteve do Papa Gregório XVI o título de “catequista apostólico“[10].
6. Por tudo isso, afirmam nossas Constituições: “A exemplo de seu Fundador os Irmãos concedem à catequese o primeiro posto em seu trabalho apostólico. Em nome de Cristo proclamam a mensagem da salvação e a chamada a converter-se”[11]. A finalidade da catequese é verdadeiramente fascinante: ajudar a que a Palavra de Deus seja acolhida no interior dos corações[12], colocar a pessoa não somente em contato com Jesus Cristo, mas muito mais que isso: facilitar-lhe a comunhão, a intimidade com o Senhor[13].
7. Nosso Fundador pede aos Irmãos que ensinem com grande interesse o catecismo às crianças e jovens e a todas as pessoas e assim o bem que façam se estenderá de família em família e se perpetuará de geração em geração. E conclui entusiasmado: “Que Irmão da Sagrada Família, depois de ler estas considerações… não desejará dedicar-se a esta sublime missão com a qual pode fazer tanto bem….?”[14].
8. O Ir. Gabriel distingue dois tipos de Irmãos catequistas, atendendo ao campo em que exercem seu ministério: escola ou paróquia:
- Os catequistas das escolas ensinam a doutrina cristã às crianças da escola que dirigem e dão catequese na própria escola.
- Os catequistas paroquiais… podem dirigir a catequese paroquial nas igrejas ou capelas e não somente para as crianças, mas também às pessoas de mais idade de ambos os sexos”[15].
- É para os Irmãos uma necessidade que brota do amor a Cristo e aos jovens em promover a catequese nas escolas, paróquias e outros lugares[16].
1.2. NA ESCOLA
9. Nossas escolas comunicam de maneira explícita e sistemática a disciplina de formação religiosa, como meio necessário para favorecer a síntese entre cultura profana e cultura religiosa. Mas, além disso, tentam conseguir não somente a adesão intelectual à verdade, mas, sobretudo, a adesão pessoal de todo o ser do aluno com a pessoa de Cristo. Por isso “nunca se insistirá o suficiente na necessidade e na importância da catequese na escola católica com a finalidade de obter a maturidade dos jovens na fé”[17].
10. O ministério da palavra pode exercer-se na escola, especialmente de quatro formas: primeiro anúncio, ensino religioso, catequese e homilia. O Diretório Geral para a catequese declara que duas dessas formas tem especial relevância: o ensino religioso e a catequese[18].
11. Nossos centros educativos, na medida do possível, promovem a criação de grupos de aprofundamento na fé e de catecumenato. Neles se amadurece a experiência da fé e se responde às necessidades de cada jovem. A experiência de grupo se oferece a todos os jovens e se lhe deixa a liberdade para que participem deles os que o desejarem.
12. Os catecumenatos da Eucaristia e da Crisma são considerados como momentos de excepcional valor educativo-catequético. Sem dúvida, não estão isolados, mas inscrevem-se dentro de um processo ininterrupto, que começa com a catequese de infância, continua com a adolescência e juventude e desemboca na da comunidade cristã adulta.
Neste processo ademais das reuniões semanais, se cuidam determinados tempos “fortes” como: convivências cristãs, celebrações de Páscoa, acampamentos…
13. Criamos e animamos grupos cristãos de alunos, ex-alunos e pais. Seguimos um itinerário de formação para estes grupos, como meio de favorecer seu próprio desenvolvimento harmônico e constante[19]. Nossas escolas, fundamentalmente através dos respectivos departamentos de Pastoral, preparam catequistas e animadores dos diversos grupos, e acompanha sua vida e seu crescimento. Convém estabelecer uma coordenação deste plano de animação catequética, ao menos no interior de cada província.
1.3. NA PARÓQUIA
14. A paróquia está chamada a ser a casa da família, fraterna e acolhedora, onde nós cristãos experimentemos que somos Povo de Deus. A paróquia está sofrendo hoje profundas transformações em muitos países. Não obstante, ela segue sendo o “lugar privilegiado” da catequese, sem deixar por isso de reconhecer que “não pode ser o centro de gravitação de toda a função eclesial de catequizar e que tem necessidade de complementar-se com outras instituições”[20].
15. Desde o começo, o Instituto tem estado muito vinculado às paróquias. Na atualidade também há Irmãos e Comunidades que exercem seu ministério de catequistas nelas. Para que nossa catequese e todo o nosso trabalho paroquial alcance sua eficácia dentro da missão evangelizadora, colocamos o acento nas seguintes linhas de ação:
- Dar grande importância à catequese de adultos, “impulsionando uma catequese pós-batismal, a modo de catecumenato, que volte a colocar alguns elementos do Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, destinados a fazer captar e viver as imensas riquezas do batismo recebido”[21].
- Aproveitar os encontros pré-sacramentais (preparação ao Matrimônio, ao Batismo, à Primeira Comunhão dos filhos…) como meio de anúncio aos afastados e de evangelização daqueles que vivem na indiferença religiosa[22].
- Potenciar a existência de um núcleo comunitário de cristãos maduros, como lugar de referência. Promover a formação de pequenas comunidades eclesiais. Integrar na Paróquia a todas as pessoas que a ela pertençam.
- Cuidar a catequese e a pastoral familiar, fazendo da família objeto e agente de evangelização ao mesmo tempo.
- Estabelecer todo o processo de educação na fé desde o das crianças até o dos adultos, sem interrupção. Sustentar um movimento juvenil que seja instrumento de evangelização na paróquia e no bairro.
- Cuidar da formação dos agentes de pastoral e valorizar os ministros leigos existentes ou candidatos.
- Mostrar uma opção preferencial pelos jovens e pobres. Fomentar a solidariedade e buscar soluções às possíveis necessidades.
- Enriquecer a comunidade paroquial e seus diversos grupos com os elementos da espiritualidade nazarena.
- Numa paróquia que vive de acordo com estas linhas de ação, a catequese das crianças, adolescentes e jovens se verá muito beneficiada[23].
1.4. FUNÇÕES DO CATEQUISTA
16. Entre as funções a desenvolver pelos catequistas destacamos as seguintes:
- Integrar e animar. Nós catequistas somos enviados por nossa comunidade de origem, àquela que pertencemos estreitamente unidos. Dedicamo-nos ao setor que nos seja proposto, seja de crianças, jovens ou adultos, sabendo que não estamos sozinhos, mas que devemos organizar-nos em nossa seção em unidade com o conjunto. É formosa a tarefa do Irmão catequista:
- Animar a outros cristãos para que assuma este serviço.
- Acompanhá-los na sua formação e no desenvolvimento de sua missão.
- Integrá-los na equipe de catequistas e no interior da comunidade cristã.
- Iniciar na fé. Nós catequistas somos autênticos “treinadores” na hora de iniciar na fé cristã. Muitas vezes as crianças, jovens ou adultos aos quais somos enviados necessitam uma purificação de suas experiências negativas, uma clarificação em seus conhecimentos, ou um estímulo para nadar na contracorrente diante da secularização que os envolve. Mantemos uma atitude de abertura e de acolhida que facilite o encontro interpessoal.
- Capacitar para a vida cristã. Tanto para os que se interessam por Jesus Cristo, mas não têm ainda recebido o batismo, como também para os que têm sido batizados em sua infância, é fundamental educar neles atitudes que façam possível a experiência da fé em suas dimensões pessoal e comunitária. Como catequistas favorecemos a vivência dos valores cristãos e o seguimento de Jesus.
- Transmitir a mensagem cristã. Nós catequistas assumimos a tarefa de instruir, ensinar, e comunicar os conteúdos da fé. Ajudamos ao catecúmeno a dar razão de sua esperança. Somos transmissores da fé que previamente temos procurado assimilar, sistematizar e elaborar.
- Educar a capacidade simbólica. Iniciamos nossos catequizandos no “mistério”, não para acabar com ele, mas para ajudá-los em sua adesão a essa realidade fascinante que a todos supera e transcende. Para isso os educamos na dimensão simbólica, despertando sua sensibilidade para tudo o que escapa do tangível e palpável; ajudamo-los a captar a realidade transcendente que os supera, mas que os coloca em contato com tudo aquilo que eles têm de mais humano. Assim os introduzimos no sentido da oração e dos sacramentos.
[1] C, 16. [2] 1 Cor 12, 5.7.20. [3] C, 1. [4] DGC, 231. [5] Cfr. CT, 65. [6] Cfr. DGC, 228. [7] Cfr. NG, 891. [8] Cfr. NG, 896 e 898. [9] PE, p.15. [10] PE, p. 19. [11] C, 122. [12] Cfr. C, 122. [13] Cfr. DGC, 80. [14] NG, 899. [15] NG, 896. [16] Cfr. PVI, p. 169. [17] EC, 51. [18] DGC, 260. [19] Cfr. PVI, p. 169. [20] Cfr. DGC, 257. [21] DGC, 258. [22] EN, 52; DGC, 257. [23] Cfr. DGC, 258.
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